"Eu estou aqui para confundir, e não para explicar!" (Chacrinha)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

20 - VICENTE CELESTINO - CAETANO VELOSO - MARISA MONTE - MARLENE DIETRICH

24 de fevereiro de 2013.


Vicente Celestino


Caetano Veloso
  
Marisa Monte
 
Marlene Dietrich
 
 

 
 
A VOZ ORGULHO DO BRASIL
 
 
 
 Era assim que VICENTE CELESTINO era chamado no país. 
Antonio Vicente Filipe Celestino nasceu no Rio de Janeiro em 12/09/1894,
e faleceu em São Paulo, em 23/08/1968. Nasceu no bairro de Santa Teresa,
filho de imigrantes italianos. Estreou profissionalmente no Teatro de Revista 
São José, em 1914, com a valsa "Flor do Mal", e gravou seu primeiro disco em 1916.
 Em 1920 montou sua própria companhia de operetas. Sempre foi muito
popular, e com tamanha popularidade acabou sendo visto como um cantor de mau
 gosto pela gente fina, elegante e "sincera", principalmente durante os anos 50 e 60.
Em 1968, CAETANO VELOSO, no contexto da Tropicália, regrava "Coração Materno",
em uma de suas primeiras provocações. Muitos outros cantores também 
gravaram suas músicas, inclusive MARISA MONTE, que, assim como Caetano,
caprichou nos arranjos.  Foi gravado até pela alemã MARLENE DIETRICH
Enfim, com Vicente Celestino vemos que essa querela entre brega e chic no
 Brasil já é antiga.  
 
 
 
 
 
 
 
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O ÉBRIO  -  VICENTE CELESTINO
 
 
Com letra do próprio Celestino, esta se tornou sua canção mais famosa,
transformada em filme em 1946, dirigido por sua esposa, Gilda de Abreu.
Foi um tremendo sucesso de bilheteria.
Abaixo, a cena onde ele interpreta a canção título.

  
Vicente Celestino
 
 
CORAÇÃO MATERNO I  -  VICENTE CELESTINO
 
Canção também composta por Celestino, e também transformada em
filme em 1951. A primeira gravação (que não é esta) é de 1937. Segundo
o próprio compositor, é baseada numa lenda árabe de mais de cinco
séculos.
 
Vicente Celestino
 
 
CORAÇÃO MATERNO II - CAETANO VELOSO
 
Esta gravação de Caetano (S. Amaro da Purificação-Bahia, 07/08/42) marcou época.
Uma das características da Tropicália era juntar estilos diferentes. Erudito e popular.
Cult e cafona. MPB e rock. A "cafona" Coração Materno ganhou arranjo
sofisticado de Rogério Duprat e se habilitou para agradar um público que antes a
desprezava. Reparem na dramaticidade da canção (daí pra cafona
 foi um pulinho) e na sua beleza! E olha só o que o mano Caetano disse:
 
"Muita gente me acusa de falta de critérios quando defendo esse ou aquele tipo
de música, de defender o vale-tudo. Mas o que eu busco é complexificar os
critérios críticos. Era essa complexidade que eu buscava em todas
as vezes que provoquei o bom gosto dominante,
 de Vicente Celestino ao Tapinha".
 
Caetano Veloso
 
 
 
ONTEM AO LUAR  I  -  VICENTE CELESTINO
 
Esta versão é de 1952, mas Celestino a gravou originalmente em 1917. A composição
é de Catulo da Paixão Cearense e de Pedro de Alcântara. Olha que bonito:
 
"A dor da paixão / Não tem explicação!
Como definir  /  O que só sei sentir!
É mister sofrer /  Para se saber
O que no peito / O coração não quer dizer."
  
Vicente Celestino
 
 
 
 ONTEM AO LUAR  II   -   MARISA MONTE
 
Marisa Monte (Rio de Janeiro, 1°/07/67), nesta canção, consegue
 manter a dramaticidade do cantor, ao mesmo tempo em que
atualiza. Essa versão ficou incrível!
 
Marisa Monte
 
 
 
LUAR DO SERTÃO I - VICENTE CELESTINO
 
Linda canção composta por Catulo da Paixão Cearense e João Pernambuco.
Foi gravada por Celestino em 1952, e lançada em 1953.
 
 
 
 
Vicente Celestino
 
 
LUAR DO SERTÃO II - MARLENE DIETRICH
 
Marie Magdalene Dietrich (Berlim, 27/12/1901), iniciou a carreira
como atriz de teatro aos 23 anos de idade, mas foi a partir do filme
"O Anjo Azul", de 1930 que se tornaria a grande estrela que foi.
Fez uma brilhante carreira em Hollywood e a partir de 1951 começa a se
apresentar como cantora em Las Vegas. Esteve no Brasil em 1959, e se
apresentou no Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Esta canção
fez parte do álbum "Dietrich in Rio".    
 
 
 
 
 Marlene Dietrich
 
 
 Vicente Celestino é o pai da música brega, segundo Tárik de Souza.
Com suas músicas de romantismo exacerbado, com suas letras
dramáticas e interpretação exagerada, foi um precursor do bolero e do
samba-canção, estilos considerados por muitos de gosto duvidoso.
Brega ou não foi sem dúvida uma das maiores vozes da música brasileira.
Morreu em 1968, quando se preparava para ir a um show, em sua
homenagem, de Caetano e Gil, que iniciavam uma revolução na música brasileira.
 Nada mais simbólico. Caetano não gravou Coração Materno numa atitude
irônica, como muitos acreditam, mas sim de uma forma que reconhecia esse
tipo de música como peça fundamental na construção de uma nova
musicalidade, ou pelo menos de um novo olhar sobre a música
brasileira. Um olhar "antropofágico" que não fazia distinção entre erudito
e popular, e que buscava nossa mais verdadeira identidade.
"Vocês não estão entendendo nada"?!
Espero que sim!
 
 
 
Abraços cafônicos!
 
 
Kid Cafona
 
 
 
 
 
 
 
Postado em 24 de fevereiro de 2013.
 
 
 
 
 
 
  Fonte: Dicionário Cravo Alvin da Música Popular Brasileira
www. dicionariompb.com.br 
 
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domingo, 3 de fevereiro de 2013

19 - WANDERLÉA - RITA LEE - ZÉLIA DUNCAN - CALYPSO

03 de fevereiro de 2013.



Wanderléa


Rita Lee

Zélia Duncan


Banda Calypso




   bela_01.gifS LOBAS
 
 

Então, dizem que o rock no Brasil surgiu na voz de uma mulher, Nora Ney, no final dos anos 50. Todavia ela apenas gravou uma versão de um rock americano, e que logo depois tratou de repudiar e voltou a cantar o que sempre cantou. Renegou o recém nascido, coitado! Mas foi outra mulher, Cely Campelo, quem acabou adotando a criança. O verbo adotar faz sentido, já que nessa época o que rolava no país eram apenas versões do rock estrangeiro. Rolavam as pedras dos anos 60 e aparece mais uma mulher, WANDERLÉA, escoltada por seus dois fiéis escudeiros: Roberto e Erasmo, e pelo grande séquito da Jovem Guarda, que incluía outras mulheres. E o rock brazuca começava a fazer barulho. Se a dupla dinâmica de escudeiros já fazia composições próprias, Wandeca ainda cantava muitas versões; mas que versões!! Hoje todas elas clássicas do rock/pop nacional. E eis que vem mais uma mulher pra pegar o bastão desse matriarcado e assumir o trono de rainha do rock brasileiro, RITA LEE; aliás, um título que ela desdenha (segundo a própria, é cafona demais, oba!). Mas enfim, o que tem de cafona nisso tudo? Rock, pop ... cafona? Pois vamos conferir. E pra ajudar na nossa investigação, vamos contar com a presença elegantíssima de
 ZÉLIA DUNCAN e da famosa e controversa BANDA CALYPSO.
Simbora, que hoje é dia de rock, bebê! ou pop? ou calipso? 
Enfim, hoje é dia de cafonália!!
 
 
 
 
   
 
 
 


WANDERLÉA - "TE AMO"

WANDERLÉA Charlup Boere Salim nasceu em Governador Valadares-MG em 1946, e aos 9 anos de idade muda-se para o Rio de Janeiro, onde logo participa de alguns concursos no rádio. Em 1962 grava seu primeiro compacto e em 1963 seu primeiro álbum: "Wanderléa". Em 1965, lidera o programa "Jovem Guarda", juntamente com Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Fez enorme sucesso nos anos 60, mas a partir dos anos 70 sua carreira entra em declínio, mas continua na ativa até hoje. Este vídeo é extraído do filme "Juventude e Ternura", de 1968. Reparem que nessas músicas mais românticas, como "Te amo" e "Ternura" (já postada neste blog), é possível reconhecer uma sonoridade que se tornaria característica da geração brega 70, de Diana a Odair José (que também flertaram com a Jovem Guarda). Também é possível fazer alguma aproximação com os famosos boleros. Nestas canções, a cantora assume uma interpretação meio chorosa (Lembra do Benito?). Mas Wandeca também gravou alguns rocks tradicionais, como "Prova de Fogo" e "Sem Endereço", onde esses elementos pouco aparecem.


Wanderléa




WANDERLÉA - "MENINO BONITO"

Em 1985, WANDERLÉA homenageia RITA LEE, gravando em um compacto o rock-balada "Menino Bonito", agora com uma roupagem mais pop. A canção fora gravada por Rita em 1974, quando, após a saída dos Mutantes, ela parte para carreira solo, com o acompanhamento da banda Tutti-Frutti. A versão de Wanderléa foi tema da novela "Um Sonho a Mais". Este clipe é uma montagem (*) de cenas de um outro clipe, "Sentado a beira do caminho", com imagens de modelos masculinos. Enquanto Roberto Carlos assumiu de vez a música romântica, ou "música de motel", como diriam alguns, Wanderléa e Erasmo ainda persistiriam numa carreira mais pop, mas sem jamais repetir o estrondoso sucesso do rei. Dizem que essa música foi uma exigência da gravadora para Rita, para que incluísse uma música romântica em seu álbum de rock puro sangue. E, sem a autorização da cantora, a gravadora ainda teria incluído um arranjo meloso, que ela só ouviu depois dos discos distribuídos. Mas não há arranjo meloso que neutralize o romantismo ácido de Rita: "Lindo, mas também não diz mais nada, e então quero olhar você e depois ir embora (!!!)". 

(*) Montagem disponíbilizada no YouTube por Júlio Carvalho.

  
 Wanderléa




RITA LEE - "SEM ENDEREÇO"

E para retribuir a gentileza, RITA LEE Jones (S. Paulo, 1947) regravou "Sem Endereço", música gravada por WANDERLÉA em 1964. É uma versão de Rossini Pinto para "Memphis Tennessee", de Chuck Berry. Rita a gravou no álbum "Zona Zen", de 1988. A música, de pouco apelo popular, não chegou a fazer sucesso com nenhuma das duas cantoras, mas agrada o público roqueiro. Todavia, apesar da sonoridade mais rock, a letra desagrada o "público exigente" (pra não falar outra coisa), que a considera "bobinha" demais; assim como quase tudo que foi feito pela Jovem Guarda. Na verdade, essa ingenuidade das letras é própria da época, e isso é apenas um dos detalhes que dão esse sabor retrô que a gente tanto gosta.

  
 Rita Lee




RITA LEE E WANDERLÉA - "PARE O CASAMENTO"

E agora, para relaxar um pouco, um cafezinho com as "alegres comadres do exército do surf". RITA LEE recebe WANDERLÉA em seu programa TV-LEEzão, onde as duas fazem uma divertida "dublagem" da primeira gravação dessa música. É o encontro de duas gerações que se sobrepõem, haja vista que Wandeca é apenas um ano e meio mais velha que Rita, mas, musicalmente, é como se viesse antes numa escala de desenvolvimento do rock no Brasil. A mineira foi expoente da Jovem Guarda, que tem sua gênese no final dos anos 50, ainda que se consolidasse com o programa de mesmo nome em 1965. Já Rita tem a Tropicália em seu DNA, movimento que ocorreu já no final dos anos 60. E Rita participava como membro de uma banda: Os Mutantes. A Rita Lee cantora e compositora se identifica, portanto, mais com os anos 70, enquanto que Wanderléa é a cara dos anos 60. Cada qual com suas qualidades, resta dizer que ambas são ma-ra-vi-lho-sas!! 


 
Rita Lee e Wanderléa




RITA LEE,  WANDERLÉA  E  ZÉLIA DUNCAN - "PARE O CASAMENTO"

E para se juntar às duas divas do pop/rock nacional, uma expoente de uma outra geração, a ótima ZÉLIA Cristina DUNCAN Gonçalves Moreira (Niterói, 1964). Zélia iniciou sua carreira em Brasília, onde morava, e gravou seu primeiro álbum em 1990: "Outra Luz". O vídeo é de um show de Rita em Porto Alegre, com o sugestivo nome de "Balacobaco", mesmo nome do álbum de 2003. Um encontro histórico de três gerações de mulheres fantásticas, sem qualquer tipo de estranhamento.

  
Rita Lee, Wanderléa e Zélia Duncan




WANDERLÉA E BANDA CALYPSO - "PARE O CASAMENTO" E "PROVA DE FOGO"


WANDERLÉA não se apresenta apenas com outras cantoras "beatificadas" pelos donos do bom-gosto nacional, mas também com aquelas que gozam de pouco prestígio; embora de muita fama, como é o caso da cantora Joelma da Silva Mendes (Almeirim-PA), e seu marido, Cledivan Almeida Farias, o Chimbinha (Belém-PA), da
BANDA CALYPSO. Esta é uma banda de calipso e brega pop, formada em 1999 em Belém do Pará, mas que faz sucesso no Brasil inteiro, já tendo vendido mais de 14 milhões de discos. Em tempos de Internet isso é uma façanha e tanto.
É muito bacana ver essa confraternização entre estilos tão diferentes.
  

 Wanderléa e Banda Calypso
 
 
 
 
 
 
 
 “(...) Antes as críticas eram mais violentas ainda. Hoje até que suavizaram um pouco. Mas acho que há um preconceito muito rançoso em não perceber a importância nossa, a importância do movimento Jovem Guarda. Este movimento provocou uma revolução no comportamento dos jovens. Se hoje a música brasileira está mais solta, já utiliza instrumentos eletrônicos, isto tudo deve-se, também, ao nosso movimento. Mas os críticos não enxergam isto. Colocam a Jovem Guarda como um hiato entre a Bossa Nova e a Tropicália. Ora, nós fomos este bastão que ligou a Bossa Nova e a Tropicália. Então se os críticos, de um modo geral, não se tocaram ainda, burro é que são”.
Wanderléa. Em entrevista para Fatos e Fotos Gente em outubro de 1980.
(in musicapopulardobrasil.blogspot.com)


 
 
Sampleando carinhosamente as sábias palavras do velho guerreiro, repito: "eu estou aqui para confundir e não para explicar". Respondam vocês mesmos se há alguma coisa de cafona nessas cartas embaralhadas. Tudo? Nada? Algumas coisas? Sinceramente, não me preocupo nem um pouco com isso, mas me divirto horrores com esse trânsito livre entre artistas brasileiros e as distinções que diferentes pessoas se atribuem a partir de um  juízo de valor estético. Gostar é ser ou ser é gostar? Deixo aqui este efeito Tostines e corro que lá vem os omi!!


Saudações Cafônicas!


Kid Cafona






Postado em 03 de fevereiro de 2013.
 
 
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