Hoje vamos ouvir a música da Amazônia. O post é sobre a música da região norte, mais especificamente a do Estado do Pará, o novo celeiro da música brasileira. Na verdade, novo pra nós, porque a região sempre foi um grande celeiro musical. Pra começar, no ciclo da borracha na Amazônia essa região era uma das mais promissoras do Brasil, havendo até mesmo uma forte cena erudita, que se estabeleceu com a construção (entre 1867/1874) do belíssimo e legendário Teatro da Paz, que foi palco de "O Guarani", encenado pelo próprio Carlos Gomes. O que chama a atenção na música do Pará é a mistura de ritmos, a música indígena, a música negra, o reggae da América Central, a guitarrada, a lambada, o carimbó, a música brega, sem contar os inúmeros ritmos da recente e badalada música paraense, como o Tecnobrega; atual sensação no país inteiro. Mas toda essa riqueza ficava escondida no extremo norte do Brasil. A única cantora que teve projeção nacional foi Fafá de Belém, que encantou o país nos anos 70 e próximos com sua voz dramática, e trazendo no corpo e na alma toda a energia das festas paraenses. Nada demais para uma cantora que carrega a capital do Estado até no próprio nome. Se hoje a hora e a vez é da esfuziante GABY MARANTOS, saibam, portanto, que ela tem mãe: DONA ONETE; pai: MESTRE LAURENTINO; e irmã mais velha: a própria FAFÁ. Claro que tudo metaforicamente; mas depois de ver toda a postagem desta conexão amazônica, vocês entenderão que Gaby Amarantos não está aí de bobeira; muito menos de passagem. A diva tem pedigree! E futuro!!
PAIXÃO CABOCLA
Divina!! DONA ONETE é simplesmente divina. Já não é mais
apenas orgulho do Pará. É orgulho nacional!! Pena que só agora foi descoberta
pelo Brasil (e pelo mundo). Para o resto do país carimbó era apenas "Sinhá Pureza".
Mas a cantora e compositora Dona Onete mostra pra gente que carimbó também é "Sinhá Paixão".
Eu mesmo já estou apaixonado por ela, que me enfeitiçou como uma Iara,
a deusa do Rio Amazonas, que seduz os homens com seu canto.
Dona Onete
AMOR BREJEIRO DONA ONETE nasceu em Cachoeira do Arari, mas passou
a infância em Belém, e depois passou boa parte da vida em Igarapé-Miri, na
Ilha de Marajó, onde conviveu com os ritmos regionais, como o carimbó, o
banguê, e o bumba-meu-boi. Foi professora de História e Estudos Paraenses, além de organizar
grupos folclóricos, "cordões de pássaros" e agremiações carnavalescas.
Ou seja, aos 72 anos de idade, Dona Onete canta a música paraense com
total conhecimento de causa.
Dona Onete
LOURINHA AMERICANA João Laurentino da Silva, o MESTRE LAURENTINO,
é um senhorzinho de 86 anos de idade, conhecido no Pará como o roqueiro
mais antigo do Brasil. Neto de escravos, nasceu em 1926 no arquipélago de Marajó.
Vive hoje na Ilha do Outeiro, região metropolitana de Belém. É pai de 16 filhos e
dono de 14 cães. Coleciona chapéus, relógios e anéis. Teve música
(Lourinha Americana) gravada pelo Mundo Livre S/A e uma de suas máximas é:
"No galho de nossas fantasias, cada um tem sua aranha" (!!).
E aí me respondam, é roqueiro ou não é??
Vejam o vídeo e tirem suas conclusões. Grande Mestre Laurentino!!
Mestre Laurentino
REINO DA ENCANTARIA
E na Amazônia também tem batuque, e dos bons! O sincretismo religioso, parecido com o de outras regiões brasileiras, ainda se mistura aqui, na música de DONA ONETE, com as
lendas da Iara (Uiara), do Boto e da Cobra Grande. Combatidas no passado, as
músicas de terreiro e as de origem africana em geral eram discriminadas, mas venceram o preconceito quando foram descobertas e incorporadas por músicos "ungidos", como Vinícius de Moraes. Quem agora ousaria contrariar?!
Confiram, então, Dona Onete, a primeira dama da Amazônia. Lindo demais! Saravá!
Dona Onete
VERMELHO A própriaGaby Amarantos diz que FAFÁ DE BELÉM é a sua "irmã mais velha", de quem recebeu total apoio no início da carreira; e até hoje são grandes amigas. Fafá apareceu no cenário nacional em 1975, fazendo sucesso com a música "Filho da Bahia", de Walter Queiroz, que fazia parte da trilha musical da novela "Gabriela". No mesmo ano grava um compacto de duas músicas, compostas por Caetano, Gil e João Donato.
Em 1976 grava seu primeiro disco, "Tamba Tajá", nome de uma lenda da Amazônia.
Aqui Fafá interpreta a música "Vermelho" (composição de Chico da Silva), no Teatro da Paz, em Belém. Esta música foi gravada no disco "Pássaro Sonhador", de 1996, em duas versões, sendo uma delas com o músico amazonense David Assayag.
Reparem nos batuques!!
Fafá de Belém
GALERA DA LAJE
Depois de ver tudo o que está aí em cima, não resta dúvida
sobre a gênese de GABY AMARANTOS. Aliás, de parte dela, porque Gaby é Tropicalista
demais pra ficar somente nessas referências. Além dessas, tem a música brega
genuína, a música eletrônica, a MPB, rock, e por aí afora. E por falar em Tropicalismo,
o próprio Caetano (sempre ele!) já gravou música com batida de tecnobrega.
Então vamos conferir, mais uma vez neste blog, a rainho do tecnobrega:
GABY AMARANTOS!!
Gaby Amarantos
E por falar em brega, é interessante notar como esses artistas do norte falam do brega sem um mínimo de constrangimento. Não há este peso que há aqui no sul.
O brega é só um tipo de música e ponto. No sul, mesmo alguns cantores desse
estilo se sentem ofendidos ao ver sua música ser chamada dessa maneira. E no Pará eles próprios se batizam assim, e se divertem e ponto.
Assim como na História da Arte tivemos o barroco e o Impressionismo com seus
nomes batizados por palavras de sentido pejorativo (mas que acabaram por absorver
esses nomes como uma afirmação) certos estão os artistas paraenses em chamar
pra si essa qualidade; e que qualidade!! Brega is beautiful! Brega-power!